Correio do Sul
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Cerca de 60 mulheres das comunidades Santa Fé e Costa da Lagoa do Caverá, se destacaram entre as mais de mil que participaram no sábado da comemoração do Dia Internacional da Mulher. Além da camiseta do evento, promovido pela Associação de Sindicatos dos Trabalhadores Rurais, elas traziam na roupa uma tarja preta e nas mãos cartazes e faixas. Mostrar que estavam de luto, foi uma forma de protestar contra a morte da lagoa do Caverá, que abrange os municípios de Balneário Gaivota – onde aconteceu o encontro – Sombrio e Araranguá.
A agricultura Maria Machado lembrou que os moradores lutam há mais de 15 anos, sem que até agora nenhuma providência eficaz tenha sido tomada. "Já perdemos a conta das reuniões, já foram lá, demarcaram onde seria feito um fechamento paliativo, mas a água continua se esvaindo", denuncia Maria. A comunidade quer a construção de um dique diminuindo a vazão na saída da lagoa para o rio.
Além do desequilíbrio ambiental que provocará, com a lagoa podem morrer também as localidades que a circundam. É a água dela que mantém o lençol freático local, que garante a água necessária para o consumo e para as lavouras de fumo, milho e feijão cultivadas ali. "Se não fosse o tempo chuvoso, a gente não estaria colhendo nada", diz Maria.
Para quem nasceu e cresceu às margens da lagoa quando ela chegava a ter cinco metros de profundidade, como Serafina Ferreira, 65, vê-la agora provoca dor e tristeza. Hoje a lâmina d'água não passa de 30 cm e pode-se andar por toda sua extensão sem molhar sequer os joelhos. Serafina lembra do pai pescador e de como as famílias pobres tinham no peixe o seu sustento. "Aquela lagoa matou a fome de muita gente, e agora o povo não tem consciência e deixa se acabar essa riqueza", lamenta. Riqueza que em qualquer país vale ouro, já que a água da lagoa é potável e serve para consumo humano. Mesmo assim, como se ignorasse o futuro, a região vira as costas para comunidades que assistem a agonia lenta de uma fonte de vida. A vida deles.