Dinheiro do fumo aquece economia

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Considerada uma das maiores produtoras de fumo, a região do Extremo Sul catarinense vive um dos momentos mais importantes do setor, a comercialização do produto. No mês de junho o fumo é plantado. Entre os meses de setembro, outubro e novembro é a época de colheita do fumo. A partir de dezembro começam as comercializações.

 

 


Dona Delma Rocho Alves, da localidade de Cipriano Alves, em São João do Sul, tirou uma tarde de folga da lida com a casa e com a roça, e acompanhada pelo marido e pelo filho Leandro, foi as compras. Desde fevereiro a carteira da família está mais recheada devido ao dinheiro recebido pela entrega do fumo. "É agora que dá pra gente gastar um pouco mais", diz a mulher, para alegria dos lojistas.

 


Nesta safra, as empresas inovaram e abriram um pouco os cofres ainda em dezembro, fazendo com que o agricultor recebesse uns trocados antes do natal e das festas de fim de ano. Mesmo assim, o forte da safra é a partir de janeiro. "Nos outros anos a gente passava o natal só no fiado", confirma dona Delma.

 


Embora o comércio aguarde com água na boca essa entrada de renda no mercado, a situação poderia ser bem melhor para todo mundo, se o preço do fumo tivesse um reajuste maior, avalia José Paulo da Silva Oliveira, fumicultor há oito anos, em Passo de Torres.

 


O aumento de 13% é pequeno, segundo ele, porque os insumos subiram muito mais. Em média, a arroba foi comercializada a R$ 95,00. O valor exato é estipulado de acordo com a classificação da folha pela qualidade e varia bastante.

 


Mesmo insatisfeito, José Paulo sabe que o produto ajuda a girar a economia. "Quando sobra sempre se investe em alguma coisa, uma moto ou um terreno, mas o principal é pagar as contas", afirma ele.

 


Pagamento que faz a alegria de Arildo de Melo, proprietário de um supermercado na avenida Damásio Peres, em Santa Rosa do Sul. Boa parte dos clientes dele são fumicultores que pagam a conta uma vez por ano. Os valores podem chegar a R$ 10 mil, ou mais. Vender para receber quase 365 dias depois não é fácil, mas Arildo acredita que não vender é pior ainda. "Aqui quem não vende pra estufeiro pode fechar as portas", afirma.

 


Essa forma de negócio faz surgir uma situação até engraçada. No balcão o comerciante possui equipamentos modernos que permitem a venda com cartão de crédito, e ao lado, velhos fichários de papel onde estão anotadas a mão as compras dos agricultores. E os fichários quase nunca ficam vazios. "Quando eles vêm pagar, já fazem outro rancho", diz Arildo, que só perde o bom humor ao falar de dois assuntos: os calotes que às vezes leva – a inadimplência fica em torno de 5% – e no fato de que quando estão com dinheiro, algumas pessoas preferem comprar fora do município. "É dinheiro nosso que deixa de ficar aqui e vai ajudar outras cidades", opina com razão.

 


Balanço

 

Uma das empresas responsáveis por este setor, localizada em Sombrio, acredita que esta safra terá um saldo positivo. A produção do litoral catarinense está com quase 70 % do fumo comercializado e já foram enviados para as regiões de Santa Cruz e Blumenau, onde está a maioria das empresas. O fumo já foi todo colhido, curado e os produtores estão selecionando o fumo e enviando para comercialização. "Nossa empresa está a 11 anos na região e hoje trabalhos 100% com exportação. Compramos todo o fumo da região e revendemos para Ásia e Europa. Além disso, fornecemos insumos e adubos para os produtores da região, assim criamos um vínculo e automaticamente incentivamos a produção local", explica o engenheiro agrônomo Antonio Mauricio.

 


As chuvas ocorridas nos últimos meses não prejudicaram o setor porque quase toda produção foi colhida antes das intempéries e estavam estocadas e protegidas. "Nós tivemos uma diminuição de cerca de 20% na produção com as chuvas de outubro e novembro, só que a qualidade continua ótima", afirma Maurício.

 


Produzindo fumo há mais de 25 anos, José Ferreira de Freitas hoje tira da produção o sustento da família. Atualmente a família planta 60 mil pés de fumo. "Esse ano a venda está boa, já vendemos quase tudo e o nosso fumo continua com qualidade. Tem muito produtor que tem passado dificuldade", comenta o agricultor.

 


Ele, sua esposa e os filhos tocam toda a produção. Já venderam praticamente toda a produção e nessa época do ano é que a família faz as compras, o dinheiro que sobra é para se manter até aproxima safra. Uma das reclamações dos produtores é o preço alto dos adubos e insumos. "Ano passado pagamos quase a metade do preço deste ano no adubo. Ainda é viável plantar porque o preço do fumo aumentou e outros produtos como venenos, baixaram", explica José.

 


Hoje o quilo do fumo está na faixa de R$ 7,04. Uma das empresas fumageiras da região trabalha com cerca de quatro mil toneladas de fumo por safra. O impacto na economia local é significante e é o sustento de muitas famílias. Uma das dicas que os profissionais agrícolas passam para os produtores é que sempre façam seguros nas produções e que não se limitam apenas a uma cultura.